domingo, 11 de dezembro de 2011

TOP10 The Beatles Covers

O mais engraçado de uma chávena de café partilhada é que se dá largas à perceção; "Como é que eu nunca me tinha lembrado disto antes?". Numa das mesas do Pherrugem, um amigo colocou o desafio, antes de poder contestar já o Barney em miniatura dentro de mim tinha berrado Challenge Accepted.


10 - Rogue Wave, All You Need Is Love


Esta banda nunca foi lá muito boa, mesmo no tempo em que só fazia música em Lo-Fi; mas mesmo assim, têm todo o mérito meu quando transformam a pior música dos Beatles em algo completamente novo.




9 - Franz Ferdinand, It Won't Be Long

Apesar de não ser grande fã da mais que do hype banda de Glasgow, admito: só esta conseguia recuperar a loucura original da música dos Beatles. Mais do que isso, a voz do Alex (que é o melhor que a banda tem) dá todo o mood à versão; pena nunca terem gravado isto sem ser ao vivo.



8 - Rita Lee, I Want to Hold Your Hand

Aqui começa a dúvida se avaliei as versões quanto à sua originalidade ou consoante o meu gosto pela original. I Want to Hold Your Hand é, sem dúvida, uma das mais íntimas dos Fab Four, colocada, como se não bastasse, na sua atribulada estadia em Hamburgo. Nunca fui muito bom ouvinte da música brasileira: o bossa nova, o samba, fazem um tanto de impressão. Mas o forró ou a música Justina é outro assunto; e no que toca a esta versão, que bem que se saiu a Rita.



7 - Wilson Pickett, Hey Jude

Já não bastava a explosão que a Mustang Sally e a In the Midnight Hour são, o Pickett ainda canta uma versão tão mais apaixonada desta música que deixa o próprio McCartney tímido. Aliás, gostaria de saber o que é que o McCartney acha desta versão. Foi uma grande perda ter deixado este homem morrer.




6 - The Breeders, Happiness Is A Warm Gun

Já acreditei nestes tipos como a perfeita fusão entre Soundgarden e Pixies, mas lá no fundo soa-me sempre a Garbage. Deve ser da voz. A minha segunda música preferida dos Beatles aqui representada numa versão muito mais grunge (eis um estilo não inventado pelos Beatles, quer dizer, e daí...). O Lennon adoraria isto se ainda cá estivesse. Duma revista de armas de caça para o Trainspotting, esta música tem qualquer coisa que me perturba.


5 - Aretha Franklin, Eleanor Rigby

Uma música sobre solidão, sobre um cemitério em Liverpool, na garra toda da mulher que ainda segura a América pelos tomates. Respeito, disse ela um dia, e digo eu também agora. A arte de fazer covers, ou pelo menos da forma que eu a entendo, vem do distanciamento em relação ao original; é transmitir o mesmo de outra forma, e esta Senhora podia estar até a cantar uma nova receita de cupcakes que eu aplaudiria de pé à mesma.




4 - The Feelies, Everybody's Got Something To Hide (Except Me and My Monkey)

Há qualquer coisa de fora de época neste gajos, nunca entendi. Se existir um tal estilo de proto-indie por favor que sejam exemplos estes gajos. Mais uma vez, é uma versão duma música de há cinco décadas atrás, e só dumas pessoas neste mundo podem dizer quão louco era o ambiente no momento em que a música foi feita. Mesmo assim, os Feelies fizeram uma grande trabalho ao traduzir essa loucura através dos tempos. 
Não sei se está no ranking da Rolling Stone, mas para mim, uma das melhores músicas de sempre.


3 - The Black Keys, She Said She Said

Este foi o primeiro nome que apontei quando pensei em fazer a lista. E aqui voltam as suspeitas. Não gosto muito da original, mas esta versão é algo doutro mundo; talvez por serem Keys a fazer a versão, talvez. O que mais valorizo nos gajos é a capacidade de fazer música crua, nua, e mesmo assim uma cena do outro mundo. Morto por vê-los ao vivo.



2 - Booker T & The MG's, Eleanor Rigby


Lá está, uma das melhores bandas de sempre. Conquistaram-me mal ouvi o Green Onions. Não sei, é só instrumental, tudo é só instrumental. Não sei se alguma vez alguém pensou nisso, mas pôr o vocalista dos Creedence Clearwater Revival a cantar com estes gajos seria o fim do mundo. Extraordinária música, a Abbey Road faz maravilhas.



1 - Sugarland, Come Together

Eu não faço ideia de que é que o Lennon estava a falar nesta música. Eu não faço ideia como é que três acordes e um baixo fazem uma música como esta. Deve ser do imperativo constante, das implicações políticas da época. Esta música é um monstro. E ao longo das décadas, vários foram os que tentaram dar um corpo à música, na minha opinião, sem sucesso. O que esta mísera bandacountry, com bastante talento diga-se, teve a coragem de fazer, foi despi-la ainda mais. Tal como a Ono fez com o último álbum do Lennon, Sugarland pegou no essencial da música e caricaturou-a, levou-a ao limite. E por se manter anárquico, esquelético e despido, aqui vai o título para melhorcover dos Beatles feita até hoje.




sábado, 10 de setembro de 2011

Jack Growan & The Wolf - O Inverno de Matosinhos

    

   São poucos e bons. Há quem ache rudimentar, cru até, e é, ao ouvido e à vista. Jack Growan & The Wolf chegam-nos vindos de um subtil inverno de Matosinhos. De guitarra acústica pendurada, o duo relata numa nostalgia tremenda sentimentos simples, sem medo nem vergonhas.

   Têm as suas fundações no metal, mas neste projeto, bastante mais acústico, mostram ao mundo que se sabe contar histórias cantando num dos folks mais íntimos do norte do país. São inevitáveis as semelhanças a Bon Iver ou Emily Jane White; a profundidade das músicas transporta-nos para um local frio, solitário. Chipêlo, vocalista da banda, mantém-se sofrido ao longo da faixa, arranhando a voz de quando em vez. André Thunder, o instrumentista, simplifica o que se ouve numa progressão de acordes típica do Neil Young, soando, de hammer on em pull of, complexo e distante. Distância talvez seja o conceito-chave para definir a banda. A carência instrumental torna o que se ouve muito mais cru, mas nada que desagrade; no entanto, fica a esperança de os ouvir a um outro nível.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pucarinho - do Quarto de Vidro para Rua Amarela


Vindos do norte alentejano, da cidade de Diana, Pucarinho é um projeto nascido em 2008 e lançou, recentemente, o seu primeiro longa-duração, “Na Rua Amarela”. Do jazz ao blues experimental, roçando o bossa nova salpicado de folclore dos Balcãs, Pucarinho relatam, numa voz minimalista mas profunda, frames dum quotidiano bem atual.
Depois do EP de 2008 “O quarto de vidro na cidade de pedra”, Pucarinho completa a banda sonora das histórias das noites gastas do sul do país. Apesar de distarem mais de cem quilómetros da capital lusa, Pucarinho soa às noites tardias e exaustas do boémio Chiado, fedem ao excesso cansado dum dia em que se viveu demasiado. Mais um contador de histórias do que um cantautor, Luís Pucarinho, pai fundador do projeto, transporta o público para um lugar-comum mas sentido de uma forma muito diferente. De perna cruzada e guitarra no regaço, Luís interpreta com brincadeiras de palavras e ideias os pensamentos de todos os que vivem num país de agora e de ontem; vivido é o caso de “Filho da Mãe” – do EP – um jogo apertado de vocábulos duros e densos que mostram um episódio antigo num ska bastante apertado. A guitarra folk, tocada por Zé Peps, tinge de blues o som da banda que se assume como metamórfica e versátil aos palcos e aos públicos; a faixa “Sinto Falta de Ar” é reflexo disso mesmo, um progressivo blues que recupera peças de um folclore celta, com ajuda de André Penas na viola d’arco. De certo não há muita banda que goste de ser rotulada ou comparada, e Pucarinho não foge às tendências, todavia são inegáveis as semelhanças com Sérgio Godinho, no que toca à métrica das canções, ou JP Simões ou Chico Buarque, pelo timbre do outro lado atlântico e a adição dos arcos. Daniel Meliço, na bateria, e Afonso Castanheira, no contrabaixo, completam o set do projeto.
Com um sonaridade bastante íntima em palco, pecam pela ausência dos sopros, refinadamente acrescentados no álbum, mas deviam integrar as atuações. Não tarda, e se os ventos os levarem a bom porto, Pucarinho serão banda sonora de uma qualquer produção nacional de ficção; pois abraçam um conjunto de clichés auditivos que apraz em muito as audiências. Acompanhando a recente onda lusófona da música nacional, Pucarinho mostram-se atrevidos até e dão cartas para alcançar os ouvidos dos portugueses. Recomenda-se a audição acompanhada um velho copo de vinho, quer do Alentejo ou não; combinação fatal.
Daniel Sallves

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Danger Days para My Chemical Romance?



Não é fácil produzir um álbum depois de The Black Parade. My Chemical Romance anunciaram, em concerto, que The Black Parade estava morta e que redesenhariam um novo conceito para o próximo trabalho. Promessas feitas, a 22 do presente mês, foi lançada a banda sonora de mais um videojogo, populada de letras fracas e sintetizadores q.b.

Com a assinatura de Rob Cavallo – o mais que famoso produtor de Green Day –, o novo álbum da banda de New Jersey, Danger Days: The True Lives Of The Fabulous Killjoys, conta a história de quatro heróis oprimidos num mundo demasiado futurista, encharcado de poluição e electrónica, onde o mais importante é sobreviverem juntos. Lamechas? O lado emocore dos irmãos Way e companhia desapareceu, talvez por indigestão da constante crítica; com ele foi-se também as letras exageradas mas verdadeiras, que doíam só pela métrica aplicada por Gerard.

O novo álbum conceptual conta com quatro fabulosas personagens: Party Poison, Kobra Kid, Fun Ghoul e Jet-Star, heterónimos de Gerard, Mikey, Frank Iero e Ray Toro, respectivamente. Juntos, berram hinos motivacionais numa era não tão decadente como a anterior, como é o caso do mais recente single Sing, uma inspiração bastante na roça de 30 Seconds to Mars ou da nova faceta de Linkin Park. Com a mudança de baterista, acrescentou-se ao conceito um novo beat, algo similar ao pop de hoje, mas que surpreende em casos como DESTROYA. Os magníficos solos de guitarra a que Toro havia habituado o seu público, estão agora escondidos por detrás de riffs simplistas, passando a ter mais destaque a voz de Gerard Way, numa forma já bastante utilizada pelo produtor; The only hope for me is you reflecte isso mesmo. Pode-se esperar que, como singles, Summertime ou Save Yourself nos alegrem no próximo Inverno, ou até mesmo S/C/A/R/E/C/R/O/W, se decidirem arriscar na música mais enigmática do álbum.

Contudo, nem tudo é deprimente. Para fechar a tela, após a despedida do DJ Dr. Death Defying, os “Fabulous Killjoys” presenteiam-nos com um rock bem sacado do meio da década de 60, divertindo com um solo bastante óbvio acompanhado ao piano de mais um bar a rechear de bêbados dançantes com a batida marcada por palmas em stereo, fazendo lembrar o lado mais ébrio de Foxboro Hot Tubs. Nada mau. My Chemical Romance habituou-nos àquela descarga eléctrica de I’m Not Okay ou Famous Last Words, falta saber se o público receberá de bom grado a mudança ou terão eles de procurar outros palcos.

Daniel Sallves

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Jack Johnson lança To The Sea

E ele não pára de surpreender. O lançamento do mais recente trabalho de Jack Johnson, o quito álbum de estúdio To The Sea, saltou directamente para a vanguarda da Billboard 200, encabeçando também os tops da Europa, Austrália, Canadá, entre outros.

Apresentado à Europa a 31 de Maio, To The Sea pode muito bem ser visto como o segundo acto de Sleep Through the Static, antecessor do álbum, lançado em 2008, dada a semelhança de sonoridades, sendo o terceiro trabalho gravado pela Brushfire Records, a editora amiga-do-ambiente fundada por Johnson.

O single You and Your Heart foi lançado em Abril deste ano, não tendo o mesmo impacto que outros temas de Johnson como Sitting, Waiting, Wishing ou Better Together. Tal não se verificou com o resto do álbum, que reflecte bem as influências da banda. Tresandando a Beatles, quer pelo teclista Gill ou mesmo pelas guitarradas de Johnson, em temas como At Or With Me ou From The Clouds, e com várias nuances de Hendrix, como em To The Sea, a banda de Johnson polvilha ainda este seu trabalho com um acentuado uso de harmónica, melódica e acordeão, e ainda com uma combinação de vozes de fundo algo diferente do até agora apostado pelo artista, reavendo a sua veia country em músicas como Red Wine, Mistakes, Mythology. Numa melodia já característica do compositor-surfista, Jack Johnson vai relatando situações do seu dia-a-dia, transportando para o cenário de To The Sea a experiência de ser pai, fechando, como disse numa entrevista para a MTV, o ciclo da vida, “ o álbum é sobre isso mesmo. Sou eu como filho do meu próprio pai ao mesmo tempo que tomo conta dos meus filhos”.

To The Sea possui ainda duas faixas bónus, lançadas nas edições nipónicas e britânicas: uma versão ao vivo de What You Thought You Need, canção do álbum Sleep Through the Static, e a Better Together, interpretada conjuntamente com a artista havaiana Paula Fuga, fundido, numa versão mais íntima, quer pela simplicidade da orgânica da música – dada apenas pela guitarra e pela harmónica – quer pela fantástica voz feminina de Fuga, raramente vista nalgum trabalho de Jack, o soul e a surf music num só tema dedicado aos entardeceres de Verão.

Jack Johnson e a sua banda preparam-se para uma tournée mundial, visitando, quer o Canadá, Austrália e Japão quer o coração da Europa; infelizmente, Portugal ainda não é a praia do artista que actua descalço.

Daniel Sallves