Não é fácil produzir um álbum depois de The Black Parade. My Chemical Romance anunciaram, em concerto, que The Black Parade estava morta e que redesenhariam um novo conceito para o próximo trabalho. Promessas feitas, a 22 do presente mês, foi lançada a banda sonora de mais um videojogo, populada de letras fracas e sintetizadores q.b.
Com a assinatura de Rob Cavallo – o mais que famoso produtor de Green Day –, o novo álbum da banda de New Jersey, Danger Days: The True Lives Of The Fabulous Killjoys, conta a história de quatro heróis oprimidos num mundo demasiado futurista, encharcado de poluição e electrónica, onde o mais importante é sobreviverem juntos. Lamechas? O lado emocore dos irmãos Way e companhia desapareceu, talvez por indigestão da constante crítica; com ele foi-se também as letras exageradas mas verdadeiras, que doíam só pela métrica aplicada por Gerard.
O novo álbum conceptual conta com quatro fabulosas personagens: Party Poison, Kobra Kid, Fun Ghoul e Jet-Star, heterónimos de Gerard, Mikey, Frank Iero e Ray Toro, respectivamente. Juntos, berram hinos motivacionais numa era não tão decadente como a anterior, como é o caso do mais recente single Sing, uma inspiração bastante na roça de 30 Seconds to Mars ou da nova faceta de Linkin Park. Com a mudança de baterista, acrescentou-se ao conceito um novo beat, algo similar ao pop de hoje, mas que surpreende em casos como DESTROYA. Os magníficos solos de guitarra a que Toro havia habituado o seu público, estão agora escondidos por detrás de riffs simplistas, passando a ter mais destaque a voz de Gerard Way, numa forma já bastante utilizada pelo produtor; The only hope for me is you reflecte isso mesmo. Pode-se esperar que, como singles, Summertime ou Save Yourself nos alegrem no próximo Inverno, ou até mesmo S/C/A/R/E/C/R/O/W, se decidirem arriscar na música mais enigmática do álbum.
Contudo, nem tudo é deprimente. Para fechar a tela, após a despedida do DJ Dr. Death Defying, os “Fabulous Killjoys” presenteiam-nos com um rock bem sacado do meio da década de 60, divertindo com um solo bastante óbvio acompanhado ao piano de mais um bar a rechear de bêbados dançantes com a batida marcada por palmas em stereo, fazendo lembrar o lado mais ébrio de Foxboro Hot Tubs. Nada mau. My Chemical Romance habituou-nos àquela descarga eléctrica de I’m Not Okay ou Famous Last Words, falta saber se o público receberá de bom grado a mudança ou terão eles de procurar outros palcos.
Daniel Sallves