terça-feira, 30 de novembro de 2010

Danger Days para My Chemical Romance?



Não é fácil produzir um álbum depois de The Black Parade. My Chemical Romance anunciaram, em concerto, que The Black Parade estava morta e que redesenhariam um novo conceito para o próximo trabalho. Promessas feitas, a 22 do presente mês, foi lançada a banda sonora de mais um videojogo, populada de letras fracas e sintetizadores q.b.

Com a assinatura de Rob Cavallo – o mais que famoso produtor de Green Day –, o novo álbum da banda de New Jersey, Danger Days: The True Lives Of The Fabulous Killjoys, conta a história de quatro heróis oprimidos num mundo demasiado futurista, encharcado de poluição e electrónica, onde o mais importante é sobreviverem juntos. Lamechas? O lado emocore dos irmãos Way e companhia desapareceu, talvez por indigestão da constante crítica; com ele foi-se também as letras exageradas mas verdadeiras, que doíam só pela métrica aplicada por Gerard.

O novo álbum conceptual conta com quatro fabulosas personagens: Party Poison, Kobra Kid, Fun Ghoul e Jet-Star, heterónimos de Gerard, Mikey, Frank Iero e Ray Toro, respectivamente. Juntos, berram hinos motivacionais numa era não tão decadente como a anterior, como é o caso do mais recente single Sing, uma inspiração bastante na roça de 30 Seconds to Mars ou da nova faceta de Linkin Park. Com a mudança de baterista, acrescentou-se ao conceito um novo beat, algo similar ao pop de hoje, mas que surpreende em casos como DESTROYA. Os magníficos solos de guitarra a que Toro havia habituado o seu público, estão agora escondidos por detrás de riffs simplistas, passando a ter mais destaque a voz de Gerard Way, numa forma já bastante utilizada pelo produtor; The only hope for me is you reflecte isso mesmo. Pode-se esperar que, como singles, Summertime ou Save Yourself nos alegrem no próximo Inverno, ou até mesmo S/C/A/R/E/C/R/O/W, se decidirem arriscar na música mais enigmática do álbum.

Contudo, nem tudo é deprimente. Para fechar a tela, após a despedida do DJ Dr. Death Defying, os “Fabulous Killjoys” presenteiam-nos com um rock bem sacado do meio da década de 60, divertindo com um solo bastante óbvio acompanhado ao piano de mais um bar a rechear de bêbados dançantes com a batida marcada por palmas em stereo, fazendo lembrar o lado mais ébrio de Foxboro Hot Tubs. Nada mau. My Chemical Romance habituou-nos àquela descarga eléctrica de I’m Not Okay ou Famous Last Words, falta saber se o público receberá de bom grado a mudança ou terão eles de procurar outros palcos.

Daniel Sallves

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Jack Johnson lança To The Sea

E ele não pára de surpreender. O lançamento do mais recente trabalho de Jack Johnson, o quito álbum de estúdio To The Sea, saltou directamente para a vanguarda da Billboard 200, encabeçando também os tops da Europa, Austrália, Canadá, entre outros.

Apresentado à Europa a 31 de Maio, To The Sea pode muito bem ser visto como o segundo acto de Sleep Through the Static, antecessor do álbum, lançado em 2008, dada a semelhança de sonoridades, sendo o terceiro trabalho gravado pela Brushfire Records, a editora amiga-do-ambiente fundada por Johnson.

O single You and Your Heart foi lançado em Abril deste ano, não tendo o mesmo impacto que outros temas de Johnson como Sitting, Waiting, Wishing ou Better Together. Tal não se verificou com o resto do álbum, que reflecte bem as influências da banda. Tresandando a Beatles, quer pelo teclista Gill ou mesmo pelas guitarradas de Johnson, em temas como At Or With Me ou From The Clouds, e com várias nuances de Hendrix, como em To The Sea, a banda de Johnson polvilha ainda este seu trabalho com um acentuado uso de harmónica, melódica e acordeão, e ainda com uma combinação de vozes de fundo algo diferente do até agora apostado pelo artista, reavendo a sua veia country em músicas como Red Wine, Mistakes, Mythology. Numa melodia já característica do compositor-surfista, Jack Johnson vai relatando situações do seu dia-a-dia, transportando para o cenário de To The Sea a experiência de ser pai, fechando, como disse numa entrevista para a MTV, o ciclo da vida, “ o álbum é sobre isso mesmo. Sou eu como filho do meu próprio pai ao mesmo tempo que tomo conta dos meus filhos”.

To The Sea possui ainda duas faixas bónus, lançadas nas edições nipónicas e britânicas: uma versão ao vivo de What You Thought You Need, canção do álbum Sleep Through the Static, e a Better Together, interpretada conjuntamente com a artista havaiana Paula Fuga, fundido, numa versão mais íntima, quer pela simplicidade da orgânica da música – dada apenas pela guitarra e pela harmónica – quer pela fantástica voz feminina de Fuga, raramente vista nalgum trabalho de Jack, o soul e a surf music num só tema dedicado aos entardeceres de Verão.

Jack Johnson e a sua banda preparam-se para uma tournée mundial, visitando, quer o Canadá, Austrália e Japão quer o coração da Europa; infelizmente, Portugal ainda não é a praia do artista que actua descalço.

Daniel Sallves